terça-feira, 8 de setembro de 2009

MCP no 15º GRITO DOS EXCLUÍDOS E DAS EXCLUÍDAS


Um grupo de 40 moradores da Comunidade Raízes da Praia uniu nossa voz ao grito de centenas de lutadores sociais no 15° Grito dos Excluídos. Desde 2005, quando o nasceu o Movimento dos Conselhos Populares, o MCP participa ativamente da construção do Grito dos Excluídos. Além da Raízes da Praia estavam companheiros do MCP do Palmeiras, Parque Água Fria, Serviluz, Tatu Mundê, dentre outros.
Um grupo da comunidade, ao final do evento, subiu ao palco onde a militante Fátima Silva narrou nossa luta. Depois o grupo de capoeristas da comunidade se apresentou. O momento foi encerrado por um grupo de jovens da comunidade que compôs uma música em homenagem à luta da Raízes da Praia.
Neste dia gritamos por aquilo que lutamos toodos os dias: liberdade e justiça.


CARTA ABERTA DO 15º Grito dos Excluídos/as
Vida em primeiro lugar. A força da transformação está na organização popular!

O Grito dos Excluídos e das Excluídas já é certeza no calendário do mês de setembro. Pelo Brasil afora homens, mulheres, jovens e crianças que vivem à margem das políticas públicas, Igrejas, Sindicatos, Movimentos Sociais, Universidades, preparam-se o ano inteiro, para no dia 7 de Setembro deixar claro que a independência do nosso país ainda não aconteceu.
Se por um lado, nos relatos oficiais da história do Brasil consta o tal brado “Independência ou morte” por outro, há quinze anos ecoam gritos pela vida e vida em plenitude. Porque Vida é o grito permanente de quem não se conforma com a exclusão seja ela de que natureza for: social, econômica, cultural...
E no 15º ano do Grito dos Excluídos e das Excluídas o tema e o lema não poderiam ser mais atuais: Vida em primeiro lugar. A força da transformação está na organização popular.
Vivemos um momento em que a sombra da morte se espalha pelos cantos e recantos do Brasil seja pelas doenças favorecidas pela fome ou alimentação fraca, seja pela exploração sexual ou pela violência que dizima tantos jovens que enveredam pelos atalhos das drogas, seja simplesmente pela omissão de socorro que denota a falta de respeito do poder público à vida do mais simples como ocorreu com um morador de rua que faleceu na Rua 8 de Setembro, no Papicu, pela burocracia que impôs a cobrança de números de RG, CPF... Um homem que era invisível para tantos precisava ser exaustivamente registrado para ser socorrido. O mesmo processo não ocorreu para vir o rabecão. O carro da morte.
Gravemos bem essa data: 13 de julho de 2009. O dia em que foi divulgada a morte de um homem que vivia à margem daquilo que eram direitos seus, segundo a Constituição Brasileira: saúde, moradia...
Mas as situações de morte de excluídos não podem ser vistas como casos isolados ou acasos e fatalidades. É necessário analisar de forma mais profunda a textura desse sistema que impede a vida e promove a morte. Não nos enganamos com o salto de desenvolvimento que o Brasil diz ter dado nos últimos anos. A quem agrada o preço da energia? Quem promove a derrubada dos últimos espaços verdes da cidade para a construção de condomínios de luxo? A quem interessa tanta corrupção no Senado? Como podemos entender que o Brasil está até emprestando dinheiro ao FMI? É possível avançar no processo de democracia quando os meios de comunicação não conseguem se expressar com total liberdade?
Nenhuma dessas ações ou atitudes leva em consideração os pobres do país, afinal, segundo dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –, mais de 52 milhões de pessoas vivem no Brasil em assentamentos precários, sendo que 15,6 milhões vivem sem água encanada, 34,6 milhões sem esgoto ou fossa séptica e 5,2 milhões sem serviços de coleta de lixo. Não somos nós que tratamos água e energia como mercadorias!
O que nos leva à outra conclusão: não existem salvadores da pátria. Não existem brados de Independência que de forma mágica transformarão nosso país.
É no tecer de cada dia que vamos reescrevendo a história. E esse é o outro lado do Grito. Não basta denunciar as situações de morte. É preciso lutar pela reestatização da COELCE, por áreas verdes na cidade, por segurança... É preciso semear, criar, promover situações de vida. O desafio do Grito é também divulgar e incentivar as conquistas que o povo organizado, com a consciência bem formada consegue realizar.
Quem testemunha a vitória do povo pobre, que luta unido, que persevera, que não se deixa ludibriar pelos argumentos dos poderosos ou pela força nunca mais será a mesma pessoa.
E certamente já faz parte da história de nossa cidade a ousadia organizada das 76 famílias do Serviluz, do Morro da Vitória e do Caça e Pesca que organizadas pelo Movimento dos Conselhos Populares – MCP no dia 3 de julho ocuparam um terreno próximo à Praia do Futuro, desocupado há mais de 20 anos pelo suposto proprietário: grupo Otoch.
Foram 3 anos de formação e organização. 3 anos para entender que o que fariam era em nome do coletivo. Por 45 dias resistiram à chuva, ao sol, à ação violenta de homens que dia após dia vigiavam, intimidavam... Resistiram e conquistaram o direito à posse daquela terra, afinal em um país como o nosso em que existe um déficit habitacional de 7,9 milhões de domicílios, não se pode conceber o luxo de se ter terrenos desocupados, sem nenhuma função social. A Comunidade Raízes da Praia provou, como tantas outras, que é possível sim, ser protagonista da história.
E fazer história é também com a comunidade do grande Palmeiras. Prova disso é a criação do Banco Palmas. É ou não audaz num sistema que coloca o capital, o lucro acima dos valores da pessoa criar para um bairro a própria moeda e assim fortalecer a economia local e gerar solidariedade?
É encorajador ver a caminhada da REAJAN – Rede de Articulação do Jangurussu e Ancuri – tecida a tantas e tão diversas mãos, mas com objetivos claros e comuns: promover a dignidade dos que se acham excluídos, incluir, valorizar...
Mas longe de ser um paraíso, o grande Jangurussu/Ancuri tem desafios intensos como a defesa da “Educação integral em tempo integral”, como prioridade para a infância e a juventude.
Avancemos! Do mais profundo do nosso ser diariamente sai o grito que reconhecemos como nosso: Vida em primeiro lugar. A força da transformação está na organização popular!

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